POEMA DO CIÚME
kali
Se entre si rangerem aos trancos
Esses meus dentes francos
Ao verem a luz dos teus, rentes e brancos,
Se ao verem os teus olhos assim tão fulgentes,
Esses olhos meus em brilhos pungentes
Contra as pálpebras se apertarem
Num aperto demente
E se os lábios meus, num traço tangente,
Ao verem os teus em risos contentes
Um contra outro se morderem
Numa mordida latente,
Não será ódio, querida, creia,
Nem amor, querendo, descreia.
Será perda do que eu não tive,
Tua fuga de minha teia.
Será o mergulho no mar profundo
De um ser que bem que se quis assim tão fundo,
Ser fantástico que encantou,
Mas pesca arisca, escapou.
Um peixe quase inteiro, um mulher meia.
Não será a onda, mas a areia.
Não será o mar por onde agora vagueias,
Mas o deserto onde a ânsia serpenteia.
Não será ódio que incendeia,
Nem amor que me fogueia
Serão ciúmes, sereia.
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